Quarta edição de Memorial dos Palmares amplia pesquisa e revê velhos parâmetros, aponta historiador
15/10/25
By:
Redação
A nova edição chega revisitada e ampliada, reunindo ao longo de mais de cinco décadas de pesquisa

O historiador e documentarista Ivan Alves Filho lança a quarta edição de Memorial dos Palmares, obra de referência sobre o Quilombo dos Palmares. A nova edição chega revisitada e ampliada, reunindo ao longo de mais de cinco décadas de pesquisa uma série de atualizações que, nas palavras do autor, refletem não apenas acréscimos documentais, mas também um amadurecimento analítico.
Uma das principais revisões apresentadas nesta edição é a reafirmação de Ivan Alves Filho sobre a origem geográfica dos escravos rebeldes que deram início a Palmares. Apesar de debates anteriores sugerirem trajetórias vindas de vários pontos do Nordeste, o autor reforça sua convicção de que o ponto de partida foi em Sergipe, com registro de senhores de engenho no final do século XVI em Alagoas que receberam terras como forma de proteção contra o Quilombo, evidência de que já havia uma insurreição em curso.
Além disso, a edição revisita o conceito de quilombo no contexto africano vs. brasileiro, buscando distinguir os usos culturais e históricos do termo. Segundo Alves Filho, no Brasil o quilombo adquiriu contornos específicos de resistência, refúgio e luta pela liberdade, possuindo dimensões políticas, sociais e culturais que vão além da mera fuga ou rebelião individual.
Outra linha de análise que ganha mais corpo é o paralelo entre o legado da escravidão e as formas contemporâneas de exclusão social. O historiador argumenta que, embora a abolição formal da escravidão em 1888 tenha sido um marco, ela não resolveu as estruturas de desigualdade, racismo e marginalização territorial que afetam populações afrodescendentes até hoje. Ele coloca, por exemplo, a questão agrária como central para entender como muitos descendentes de quilombolas permanecem sem acesso à terra ou vivendo em condições precárias.
A quarta edição também incorpora fontes documentais novas, pesquisas de campo posteriores, e revisões historiográficas recentes, dando ao volume uma relevância renovada para estudiosos, ativistas e leitores que buscam compreender não apenas a história de Palmares, mas sua ressonância atual.
Por fim, Alves Filho reforça que Memorial dos Palmares, na sua nova edição, é mais do que um relato histórico: é uma obra que interpela o presente, cobrando uma memória viva cuja compreensão é essencial para enfrentar desafios sociais arraigados. Ao revisitar Palmares, ele propõe que o quilombo seja lido como protótipo de sociedade alternativa, de práticas interculturais, de autonomia e resistência e, nesse sentido, uma inspiração persistente para o Brasil contemporâneo.
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