Romaria em Maceió transforma fé em denúncia contra a maior tragédia socioambiental urbana do mundo
03/10/25
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36ª edição da Romaria da Terra e das Águas expõe crime da Braskem e omissão do poder público em catástrofe que destruiu bairros inteiros

Neste domingo, 5 de outubro, Maceió receberá a 36ª Romaria da Terra e das Águas, um evento que une espiritualidade, memória e luta social. Mas, diferente de anos anteriores, a caminhada deste ano assume um caráter ainda mais contundente: denunciar o maior desastre socioambiental urbano já registrado no mundo, causado pela exploração de sal-gema pela Braskem.
A mineradora provocou o afundamento de cinco bairros, expulsou mais de 60 mil pessoas de suas casas, aniquilou laços comunitários e deixou para trás ruas fantasmas, escolas abandonadas e igrejas esvaziadas. O que antes era vida virou cenário de escombros silenciosos. A dimensão da tragédia não se explica apenas pelo colapso geológico, mas pela violência social e psicológica sofrida por milhares de famílias alagoanas.
A Romaria terá início às 6h, na Igreja Batista do Pinheiro — bairro símbolo da catástrofe — e seguirá por pontos estratégicos, como o antigo Hospital Sanatório e as comunidades de Bebedouro e Flexais, todos atingidos pela mineração. O trajeto será marcado por paradas reflexivas, onde vítimas darão seus depoimentos e especialistas tratarão das consequências sociais, ambientais e de saúde mental que se arrastam até hoje.
Mais do que rezar, os participantes vão transformar a fé em instrumento de resistência. Sob o tema “Ecologia Integral: esperança, resistência e profecia” e o lema “E Deus viu que tudo era muito bom… A Braskem afundou sonhos”, o evento busca dar visibilidade ao sofrimento de um povo que ainda luta por justiça, reparação e memória.
A cada testemunho, a Romaria reafirmará que o ocorrido não é tragédia natural, mas crime corporativo. Um crime agravado pela cumplicidade do poder público, que falhou em fiscalizar, negligenciou a prevenção e hoje age de forma tímida frente à magnitude da destruição. Soma-se a isso o silenciamento de parte da grande mídia, que trata o maior desastre socioambiental urbano do mundo como um problema regional, diminuindo sua gravidade perante a opinião pública nacional e internacional.
A caminhada também se conecta com a encíclica *Laudato Si’*, do Papa Francisco, que propõe o cuidado com a “casa comum” e denuncia o modelo econômico predatório que sacrifica comunidades em nome do lucro. Nesse sentido, a Romaria em Maceió extrapola os limites locais e se insere em um debate global sobre justiça socioambiental, responsabilidade empresarial e os limites éticos da exploração de recursos naturais.
No percurso, as vozes dos que perderam tudo se somarão às orações e cânticos. Famílias arrancadas de suas casas, comerciantes falidos, pescadores sem lagoa, jovens sem escola e idosos sem vizinhança formarão um coro de denúncia contra a impunidade que ainda impera. Muitos atingidos não resistiram à pressão e ao trauma; outros carregam feridas invisíveis, como a depressão e a ruptura de vínculos afetivos.
O ato religioso se encerra com a celebração eucarística presidida pelo arcebispo Dom Beto Breis, mas a Romaria não termina ali. Ela é, acima de tudo, um marco de resistência contra o esquecimento. Um lembrete de que a fé cristã, quando enraizada na realidade concreta, não se cala diante da injustiça.
Neste domingo, as ruas de Maceió ecoarão um recado claro: a Braskem não destruiu apenas casas, mas sonhos, histórias e comunidades inteiras. E diante de um crime dessa magnitude, o silêncio é cumplicidade. A Romaria será, portanto, um ato de fé, mas também um tribunal moral que exige: justiça já.
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