Os partidos e políticos de direita entendem melhor, hoje, o eleitor
A esquerda cresceu eleitoralmente por defender a distribuição dos benefícios da economia e ampliar os direitos sociais, durante a era de abundância propiciada pelo aumento da produtividade, graças aos avanços da tecnologia. Não estava preparada, porém, para o despontar de novos produtos, como os aplicativos de mobilidade, que mudaram as relações de trabalho. Não se preparou para a substituição da abundância pela compulsória necessidade de limites, ecológicos, sobretudo, porque o aumento no consumo provoca danos climáticos. Não sabe o que fazer com o tamanho do Estado, esgotado fiscal, gerencial e moralmente, atalho para corrupção e privilégios. Perdeu-se diante do dilema entre a soberania nacional e a globalização nas cadeias de produção e finanças. Não estava pronta para enfrentar o planeta movido a individualismo. Brotaram ainda limites na urbanização diante da violência e da imigração; e houve a ampliação dos direitos de minorias que se chocam com valores éticos tradicionais. A esquerda, enfim, vem sendo derrotada eleitoralmente, agora, por ter se esgotado como portadora de utopia.
A esquerda da era da opulência não preparou novas bandeiras para esse tempo de limites, e não consegue concorrer com a direita, cuja coerência está na defesa da manutenção dos privilégios econômicos já conquistados e não mais distribuíveis para todos. Na era da escassez, chamemos assim, a esquerda deixou de ser atraente e a direita é mais confiável. Restaria uma alternativa à esquerda, ao menos do ponto de vista educacional: a proposta de distribuição igualitária do acesso ao conhecimento, com a defesa de um Sistema Único Público (não necessariamente estatal) para a Educação de Base. Essa utopia requer estratégia de acordo com os recursos fiscais disponíveis, mas não sofre limites ecológicos e distribui sem tomar. Ela não é defendida pelos políticos e partidos de esquerda porque eles são prisioneiros de visões antigas. Não entenderam o papel capital do conhecimento como o vetor do progresso, nem a educação como o vetor da distribuição. Não entenderam que no lugar da luta de classes temos uma luta de cabeças; também porque seus compromissos são presos aos sindicatos de trabalhadores na burocracia educacional cujos interesses se chocam com a qualidade e a equidade na educação. Por isso, no lugar de defender um sistema educacional, os governos de esquerda comemoram pequenos ajustes e mais recursos financeiros sem ambição de qualidade ou equidade.
“O cidadão já não acredita em um bom sistema público. Quer os filhos em escolas sem greves”
O futuro da esquerda parece ser cada vez mais complicado, de obstáculos intransponíveis. A direita, sintonizada com o eleitor individualista e desconfiado do Estado, oferece a proposta de educação de qualidade com equidade por meio da privatização das escolas, graças a uma bolsa, um “voucher”, a cada família para que possa pagar as mensalidades. Essa proposta promoverá corrupção, não trará a qualidade necessária, ainda menos equilíbrio, mas soará como bandeira sedutora para o eleitor cansado da mesmice das esquerdas e da deficiência dos quase 6 000 frágeis sistemas públicos municipais. Por causa dos equívocos de governos e da miopia nostálgica das esquerdas, o cidadão já não acredita em um bom sistema público, decepcionado. Ele quer poder ter seus filhos matriculados em escolas privadas, sem greves.
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