Itália abre portas para médicos e enfermeiros estrangeiro. Salários chegam até R$ 44,6 Mil
Renata Bueno
17 de set.
4 min de leitura
Como brasileira que fez história como a primeira mulher do Brasil eleita para o Parlamento Italiano, advogada e defensora dos direitos humanos, sempre trabalhei para unir Brasil e Itália. Hoje, em meio à maior crise de mão de obra na saúde da história da Itália, vejo uma janela de oportunidades inédita para profissionais estrangeiros, especialmente brasileiros. Com um déficit estimado em mais de 65 mil profissionais, o país está abrindo portas para atrair talentos globais.
Com salários de até 7 mil euros (cerca de R$ 44,6 mil), passagens aéreas, moradia e cursos de italiano gratuitos, essa é a sua chance de construir uma carreira internacional. Neste artigo, exploramos as causas dessa crise, as medidas governamentais que facilitam a entrada de estrangeiros e por que os brasileiros estão em posição privilegiada.
A crise sanitária na Itália: um déficit histórico
A Itália, conhecida por seu sistema de saúde público universal (Serviço Nacional de Saúde ou SSN), enfrenta uma emergência sem precedentes. Segundo a Fundação GIMBE e a Federação Nacional dos Ordens dos Profissionais de Enfermagem (FNOPI), faltam 38 mil médicos especialistas e mais de 65 mil enfermeiros, com projeções de um déficit de 100 mil até 2030. Por quê? A população está envelhecendo rápido – em breve, um terço dos italianos terá mais de 65 anos –, enquanto milhares de profissionais se aposentam (29 mil médicos e 21 mil enfermeiros até 2025) ou deixam o país por melhores salários na Europa. O resultado? Filas intermináveis, pronto-socorros lotados e uma necessidade urgente de talentos estrangeiros.
O impacto é claro: regiões como Veneto, Piemonte e Emilia-Romagna clamam por médicos em áreas como oncologia e pediatria, e enfermeiros para cuidados intensivos e geriatria. A crise, agravada pelo burnout e pela saída de 20 mil enfermeiros só em 2024, abriu uma janela única para profissionais de fora, especialmente brasileiros, que têm formação de ponta e um jeito acolhedor que os italianos adoram.
O decreto Milleproroghe: flexibilização para reconhecimento de diplomas estrangeiros
Para combater essa lacuna, o governo italiano adotou medidas inovadoras, com destaque para o Decreto Milleproroghe (Decreto-Lei nº 202/2024), que prorrogou até 31 de dezembro de 2027 o reconhecimento temporário de qualificações profissionais estrangeiras. Ele permite que médicos, enfermeiros e técnicos estrangeiros trabalhem imediatamente na Itália, enquanto aguardam a validação oficial de seus diplomas pelo Ministério da Saúde. A deroga às normas tradicionais de reconhecimento (como as do DPR 394/1999) é uma resposta direta à "grave carenza di personale sanitario", facilitando contratações em estruturas públicas e privadas.
Regiões publicam listas de vagas, e hospitais contratam diretamente, com contratos iniciais de até três meses e chance de renovação. A Lei de Fluxos (L. 187/2024) ainda facilita vistos para profissionais qualificados e até para suas famílias, tornando a mudança mais acessível. Essa flexibilização é uma revolução. Antes, o reconhecimento de diplomas podia levar anos; agora, você pode começar a trabalhar em semanas, com suporte para se adaptar.
Ofertas atrativas: salários, benefícios e suporte para estrangeiros
Os incentivos vão além da burocracia: para suprir a demanda, hospitais públicos e privados estão oferecendo pacotes competitivos que chegam a 7 mil euros mensais (aproximadamente R$ 44,6 mil, dependendo da cotação), um valor significativamente superior à média italiana para enfermeiros (cerca de 1.800-2.500 euros líquidos para iniciantes, podendo chegar a 3.000 euros com experiência). Esses salários incluem bônus por especialização, turnos extras e, em muitos casos, benefícios como passagem aérea paga, moradia subsidiada e cursos gratuitos de italiano (obrigatórios para integração, mas com suporte inicial).
Clínicas como o Istituto Oncologico Veneto e redes regionais buscam especialistas em áreas críticas, como terapia intensiva e dialise. Para médicos, especialidades como geriatria e oncologia estão em alta. Em 2025, com o envelhecimento populacional acelerado, essas oportunidades devem se multiplicar, especialmente no Norte e Centro da Itália.
Brasileiros: valorizados pela formação sólida e atendimento humanizado
Os profissionais brasileiros têm um lugar especial nesse cenário. Nossa formação em medicina e enfermagem é reconhecida mundialmente pela excelência técnica e, principalmente, pela humanização – um traço que ressoa com a cultura italiana de cuidado compassivo. A proximidade linguística (português e italiano são primos!) e a afinidade cultural facilitam a adaptação. Associações como a Associação de Médicos de Origem Estrangeira na Itália (AMSI) confirmam: brasileiros estão entre os mais procurados, com altas taxas de retenção por seu profissionalismo e empatia.
Como ex-parlamentar, defendi iniciativas para fortalecer laços ítalo-brasileiros, e vejo nisso uma chance para milhares de profissionais brasileiros buscarem novos horizontes, terem a chance de transformar vidas – e a própria carreira – na Itália. Estudos da OCSE mostram que enfermeiros brasileiros se adaptam rapidamente, com taxas de retenção altas devido ao "atendimento humanizado" que alinha com os valores italianos.
Como aproveitar essa oportunidade?
É simples! Como advogada especializada em imigração e cidadania italiana, recomendo que profissionais interessados consultem sites oficiais como o do Ministério da Saúde Italiano ou plataformas regionais de saúde (como Veneto Lavoro). Prepare seu diploma traduzido, comprovantes de experiência e certificações. Muitos hospitais aceitam candidaturas diretas, e agências especializadas podem ajudar no processo.
A Itália não está apenas em crise; está se reinventando para atrair talentos globais, e isso é uma oportunidade dourada para médicos e enfermeiros estrangeiros. Com o Decreto Milleproroghe pavimentando o caminho e incentivos generosos, o país oferece não só salários atrativos, mas também qualidade de vida em uma nação rica em história e cultura.
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