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Itália enfrenta crise demográfica: perda de 4 milhões de habitantes até 2050

  • Foto do escritor: Renata Bueno
    Renata Bueno
  • há 4 dias
  • 4 min de leitura

Atualizado: há 3 dias

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Ao ler a notícia publicada pelo portal da ANSA, deparei-me com um cenário alarmante: a Itália está diante de um desafio silencioso, mas de proporções críticas, conhecido como "inverno demográfico". Segundo dados divulgados nesta segunda-feira (28) pelo Instituto Nacional de Estatística (Istat), o país pode perder mais de 4 milhões de habitantes nos próximos 25 anos, com a população atual de cerca de 59 milhões caindo para 54,7 milhões até 2050. Essa projeção, que reflete uma queda gradual, porém constante, acende um alerta para o futuro econômico, social e cultural da nação. Paradoxalmente, enquanto a crise demográfica se intensifica, o governo italiano dificulta o acesso à cidadania para descendentes de italianos, uma medida que poderia ajudar a mitigar o problema e impulsionar a economia do país.

Uma crise alimentada pela queda na natalidade
A principal causa desse declínio populacional é a constante redução na taxa de natalidade. Em 2024, a Itália registrou apenas 370 mil nascimentos, o menor número de sua história, representando uma queda de 2,6% em relação a 2023, que já detinha o recorde negativo anterior. A taxa de fecundidade, que mede o número médio de filhos por mulher, atingiu o preocupante índice de 1,18 em 2024, muito abaixo dos 2,1 necessários para manter a população estável.

Esse cenário não é novo. Desde 2008, o número de nascimentos no país caiu 34,3%, e a idade média das mães no primeiro parto subiu para 32,6 anos, refletindo a tendência de postergação da maternidade. A combinação de insegurança econômica, altos custos de moradia e falta de políticas públicas robustas para apoiar famílias tem desencorajado casais a terem filhos, agravando o problema.

Impactos na população economicamente ativa
Outro dado alarmante do Istat aponta para uma redução ainda mais drástica na população economicamente ativa, entre 15 e 64 anos, que deve passar de 37,4 milhões para 29,7 milhões em 25 anos. Essa diminuição representa um desafio direto para a sustentabilidade do sistema de pensões e saúde, que dependem de uma força de trabalho robusta para financiar os benefícios dos aposentados. Com menos trabalhadores contribuindo e uma população envelhecendo rapidamente, a Itália enfrenta um futuro de pressão econômica sem precedentes.

Aumento da emigração: um agravante
Além da baixa natalidade, a Itália também enfrenta um aumento significativo na emigração. Em 2024, 191 mil habitantes deixaram o país, um crescimento de 20,5% em relação ao ano anterior. Quando considerados apenas os cidadãos italianos, o número é ainda mais expressivo, com um aumento de 36,5%. Esse movimento de diáspora, especialmente de jovens em busca de melhores oportunidades no exterior, intensifica o esvaziamento populacional e reduz ainda mais a base de contribuintes para o sistema econômico do país.

Um futuro de famílias menores e mais solitárias
As projeções do Istat também indicam uma transformação na estrutura familiar italiana. Até 2050, 41,1% das famílias serão compostas por apenas uma pessoa, contra os atuais 36,8%. Esse aumento reflete não apenas a queda na natalidade, mas também mudanças sociais, como o envelhecimento da população e a preferência por lares unipessoais. Essa tendência pode impactar a coesão social e aumentar a demanda por serviços voltados para idosos, que hoje já representam uma parcela significativa da população, com cerca de 22 mil ultracentenários.

A cidadania italiana como solução bloqueada
Enquanto a natalidade despenca e a emigração cresce, a imigração e a concessão de cidadania a descendentes de italianos poderiam ser ferramentas estratégicas para enfrentar a crise demográfica. Em 2024, a população estrangeira residente na Itália cresceu 3,2%, alcançando 5,42 milhões de pessoas, o equivalente a 9,2% da população total. Contudo, a recente legislação que dificulta o acesso à cidadania por descendência (iure sanguinis) representa um obstáculo significativo.

Milhões de descendentes de italianos, especialmente na América Latina, buscam a cidadania italiana com o objetivo de morar, estudar e trabalhar na Itália, contribuindo diretamente para a economia e a reposição populacional. Esses novos cidadãos poderiam trazer dinamismo ao mercado de trabalho, aumentar a base tributária e ajudar a equilibrar o sistema previdenciário. No entanto, barreiras burocráticas e mudanças legislativas, como a exigência de comprovações adicionais e a morosidade nos processos, desencorajam muitos que desejam se integrar à sociedade italiana. Essa postura do governo é um contrassenso em um momento em que o país precisa de mais habitantes economicamente ativos.

A imigração como possível solução
A imigração poderia ser uma solução de curto e médio prazo para o declínio demográfico, especialmente considerando que imigrantes tendem a chegar em idade reprodutiva. Contudo, a integração dessas populações e a harmonização de seus padrões de fecundidade com os da população local continuam sendo desafios. Facilitar o acesso à cidadania para descendentes seria uma forma de atrair pessoas já conectadas culturalmente à Itália, reduzindo barreiras de integração e maximizando os benefícios econômicos e demográficos.

Um chamado à ação
Como ex-parlamentar italiana e advogada, acredito que a crise demográfica da Itália exige um esforço conjunto e apartidário. É essencial implementar políticas públicas que incentivem a natalidade, como incentivos fiscais para famílias, ampliação de creches e medidas que promovam a conciliação entre trabalho e vida pessoal.

Além disso, é fundamental rever as políticas migratórias e de cidadania para atrair e integrar talentos, sejam estrangeiros ou descendentes de italianos. Simplificar o processo de reconhecimento da cidadania iure sanguinis seria um passo estratégico para incentivar a chegada de novos residentes dispostos a contribuir para o país. A projeção de perder 11,5 milhões de habitantes até 2070, uma redução de 20% da população em menos de meio século, não é apenas um número, mas um alerta sobre o futuro da nação.

O inverno demográfico italiano, conforme destacado pela ANSA, não é apenas uma questão estatística, mas um desafio que toca a essência da identidade e da sustentabilidade do país. Facilitar a cidadania para descendentes de italianos, incentivar a natalidade e abraçar a imigração de forma estratégica são passos cruciais para reverter essa tendência. Como italiana, acredito que é nosso dever agir com urgência e visão de longo prazo para garantir que a Itália continue a prosperar. O futuro do país depende das escolhas que fizermos hoje.

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