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Uma praça, a minha praça.

  • Foto do escritor: Márcia Heliane Gomes
    Márcia Heliane Gomes
  • 7 de mar.
  • 4 min de leitura

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Nas sábias palavras de Mário Quintana a cidade se constitui como um emaranhado de espaços que estão interligados entre si, como se fosse um corpo que precisa estar em constante harmonia para com todas as partes de forma que tudo funcione perfeitamente. Em um passeio que faço pela cidade, em um singelo trajeto do dia a dia, percebo as várias ligações que as ruas fazem ao cruzar entre si me levando a diferentes lugares. Nestes variados caminhos que qualquer pessoa faz em seu dia, “a cidade do andarilho tem uma história, nem a melhor nem a pior do mundo, simplesmente histórias que configuram referências práticas e simbólicas em que se reconhece ou se constrange nas ruas que perambula (...)” (Eckert e Rocha, 2003). Em suas características singulares o urbano aparece como um terreno vasto de possibilidades a ser investigado e vivido e assim conhecer melhor as características que lhes são próprias.
 
A Praça das Mercês – ou apenas Mercês –, situada no centro de Tiradentes/MG, se mostra como um verdadeiro lugar de memória, visto que foi ali que vivi minha infância, adolescência e parte da minha vida adulta e de lá tenho muito para contar e assim continuar a manter a memória do lugar que outrora foi tão importante na contribuição do crescimento da cidade. Há em mim uma inquietação no sentido de falar – ou escrever – sobre minhas vivências nesse espaço tão meu e de toda a cidade. No tocante a praça, esta se apresenta como um cenário marcado por muitos momentos de socialização, e a praça ainda tenta manter-se como um lugar de encontros.  E assim foi a Praça das Mercês. Ali a criançada se reunia para jogar amarelinha, para andar nos carrinhos de rolimã, jogar finco, subir na mangueira (confesso que nunca subi nessa mangueira. Era medrosa e procurava outros rumos para não ser encontrada e se camuflar no pique-esconde e tantas outras brincadeiras daquela época… Éramos crianças livres com os pés sujos de terra batida. Sim, a Praça das Mercês era de chão batido. 
 

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Nossa casa, naquela praça, construída pelo meu pai com ajuda de um amigo pedreiro, era uma casa simples, mas ao mesmo tempo fascinante, pois era nossa. Vivia cheia de crianças, vivia cheia de gente. Meus pais gostavam desse movimento. Gostava que todos nós estivéssemos ali, rodeados de amigos. A casa era cercada por um muro baixo, o que facilitava nossos encontros nos finais de tarde para conversas de todo o tipo. Era o muro mais alegre e mais frequentado da cidade. E, para enfeitar mais ainda, eu e meu pai plantamos uma muda de ipê rosa, que está até hoje fazendo sombra e fazendo festa quando as flores explodem em sua cor mais suave. 
 
Daquela praça participávamos da Festa de Nossa Senhora das Mercês e no Dia Maior, da procissão que levava a belíssima imagem por toda a cidade. 
 
Ali também, já na minha adolescência, nos reuníamos para jogar voleibol em uma ‘quadra’ totalmente improvisada por nós. E ali, meus irmãos se reuniam com muitos amigos para o ‘esquenta’ do Bloco das Domésticas, uma alegria do nosso Carnaval. Ali, no muro da minha casa, eu confidenciava minhas alegrias, medos, inseguranças e meus amores de juventude. Eu me encantava com as tardes indo embora e com o chegar das noites. Via a lua e sorria com o seu brilho. E vi a maturidade chegar.
 
Nos divertíamos com os comícios em época de eleições, os discursos eram muito inflamados. Ah, o poder… Mas íamos aprendendo sobre cidadania, liberdade, Democracia… 
 
Dali, daquela casa, naquela praça, eu vi sair o enterro do meu pai que partiu prematuramente. Mas, cinco meses depois, vi a chegada da minha filha, para preencher aquele vazio e me fazer a mulher mais feliz desse mundo. 
 
Saímos daquela  praça e da cidade há vinte e oito anos. Coisas da vida! E muita coisa mudou, quase tudo. Apreender os efeitos de tais transformações implica falar de sentimentos, significados e emoções de um espaço que é, antes de tudo, vivido. 
 
Cada cidade tem, na sua História, pontos de referência que pertencem à sua memória e são fundamentais para a identidade e sentimento de pertencimento das pessoas em relação ao meio em que estão inseridas. Os significados dos locais dependem muito da importância que a população imprime sobre eles. A Praça das Mercês funcionou como ponto de encontro, como referência de socialização para uma geração inteira. E isso não é pouco. 
 
Posso hoje criticar a forma como as intervenções foram realizadas e defendo aqui a necessidade de uma valorização maior dos marcos que estão imbuídos de significados ou que guardam na sua estrutura um pouco da memória de seu povo. A Praça das Mercês perdeu seu significado. Triste, muito triste. As mudanças que ocorrem na cidade acontecem, muitas vezes, de maneira muito rápida e é inegável que imprimem sentimento de perda de características do passado, fazendo com que a população de um determinado lugar retome constantemente à memória, em busca de elementos que possibilitem a recomposição de sua identidade. 
 
À medida que o espaço público assume novas formas e significados, algumas pessoas que possuíam afeições por determinados lugares sentem-se injustiçadas por não terem, na cidade, referências de seu tempo. Esses lugares são pontos fundamentais de identidade, do sentimento de pertencer a uma cidade.
 
Só me resta guardar em um canto muito especial da minha memória tudo o que eu vivi naquela praça, naquela cidade.
 

 

 

 
Márcia Heliane Gomes
Editora e escritora
Responsável pela Aquarius Produções Culturais

 

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