Alagoas celebrou o primeiro Dia Nacional do Maracatu nesta sexta-feira (1º)
02/08/25
By:
Redação
A data, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2024, representa o renascimento de uma manifestação cultural silenciada por quase cem anos

Alagoas viveu um momento histórico nesta sexta-feira (º1), ao celebrar, pela primeira vez, o Dia Nacional do Maracatu, uma conquista que vai muito além do reconhecimento oficial. A data, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2024, representa o renascimento de uma manifestação cultural silenciada por quase cem anos após o episódio do Quebra de Xangô, em 1912.
A secretária de Estado da Cultura e Economia Criativa, Mellina Freitas, celebrou o reconhecimento. “O maracatu é um símbolo de resistência e da riqueza da nossa herança afro-brasileira. Uma linguagem ancestral que resistiu ao apagamento histórico e que agora reencontra seu lugar na paisagem cultural alagoana. Reconhecer e fortalecer essa expressão é um compromisso com a memória coletiva, com a justiça cultural e com a valorização das matrizes africanas que moldam a identidade do nosso povo”, afirmou a secretária.
Ela também reforçou a importância do reconhecimento legal. “A institucionalização dessa data fortalece o compromisso do Estado com a valorização da cultura popular e com os artistas que mantêm viva essa tradição”, destacou a gestora.
A retomada do maracatu em Alagoas ocorreu em março/abril de 2007, quando o percussionista Wilson Santos ministrou uma oficina de maracatu no Centro de Belas Artes de Alagoas (Cenarte), equipamento público mantido pelo Governo de Alagoas e administrado pela Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult). A ação fazia parte de um ciclo de formações voltadas à valorização das expressões afro-brasileiras no estado.
A resposta do público foi imediata. Participantes da oficina, em sua maioria jovens de comunidades periféricas, artistas independentes e estudantes, decidiram manter os encontros e continuar os estudos musicais. A partir dessa mobilização espontânea, se formou um núcleo de prática regular.
Em 21 de abril de 2007, foi fundado oficialmente o Grupo Percussivo Maracatu Baque Alagoano, se tornando o primeiro grupo do gênero criado em Alagoas após quase um século de invisibilidade. O grupo se tornou símbolo da reconexão cultural com tradições negras apagadas historicamente e catalisador de novos grupos, oficinas e ações culturais voltadas à cultura popular afro-brasileira.
Hoje, pelo menos dez grupos estão ativos em Alagoas, como o Yá Dandara, primeiro exclusivamente feminino, e o coletivo Sankofa, que mistura maracatu com outras sonoridades afro-brasileiras e expressões da cultura popular local, com base no bairro do Vergel do Lago, em Maceió.
“O dia de hoje é emblemático, pois mais que o som dos tambores, a data reverencia um marco histórico de resistência e de renascimento cultural. Antes do Quebra, o maracatu era expressão viva das comunidades periféricas e dos terreiros de Xangô, entrelaçado à religiosidade afro-brasileira e à identidade negra. E isso nos foi calado. Então, hoje celebramos a retomada da memória, da dignidade e da ancestralidade”, afirma Wilson Santos.
“Celebrar o Dia Nacional do Maracatu em Alagoas é mais que uma festa, é um ato de resistência e de cura coletiva. Depois de quase um século de silêncio imposto pelo Quebra de Xangô, ver os tambores ecoando novamente pelas ruas de Jaraguá é como ouvir a ancestralidade gritar que ainda estamos aqui, falou a mestre do Maracatu Yà Dandara, Dani Lins.
“O Maracatu Feminino Yá Dandara nasceu desse renascimento, como um espaço onde as mulheres não apenas tocam, mas lideram, criam e transformam. Cada baque é um chamado à memória, à dignidade e à força das mulheres negras que sustentam essa tradição com corpo, alma e coragem. Hoje, o maracatu em Alagoas também é feminino, é plural, é vivo, e é nosso”, destaca Dani Lins.
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