top of page
  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram
  • YouTube

A beleza de fazer livros

  • Foto do escritor: Márcia Heliane Gomes
    Márcia Heliane Gomes
  • 14 de fev. de 2024
  • 4 min de leitura


Eu faço livros. E resolvi fazer livros há pouco tempo, relativamente. Trabalhei na Educação
durante 30 anos e quando me aposentei não queria parar. Parar envelhece. E eu não quero
envelhecer. Voltei a trabalhar e conheci um pouco do processo de edição e publicação de
livros. Nesse tempo, participei de sete publicações coletivas. Mas isso não me bastava. Eu fui
apresentada aos livros ainda muito menina e eles sempre me encantaram. O cheiro, o
formato, as letras, as palavras, as histórias, a capa, as cores – às vezes, a ausência delas –, o
encantamento de me transportar para outros mundos.

Resolvi então fazer livros. E, por onde começar? Aprendendo a fazer livros. E foi assim que
comecei – aprendendo e fazendo. E abri minha editora, a Aquarius Produções Culturais, com
a cara e com a coragem. Coragem sim, há que se ter muita. Meu trabalho é solitário. Trabalho
em um canto de um quarto e, às vezes, uma insone que vence a noite pensando na
responsabilidade de “colocar” um livro no mundo. Há sempre momentos de desespero,
quando os envolvidos, próximos ou distantes, não interagem. E, se interagissem,
atrapalhariam. Aí, sou só eu e minha coragem.

As sensações são muitas e, quase não consigo conter a alegria do aprendizado. São sensações
não totalmente conscientes, mas que norteiam minhas ações, meus hábitos e meus dias.
O primeiro contato com o autor é especialmente tenso. É nessa hora que falamos de questões
referentes à contrato, documentações, design de capa e diagramação, direitos autorais, vendas
e divulgação. É hora de demonstrar segurança e domínio do assunto. Ganhar a confiança e
torcer para que tudo dê certo. Nesse momento eu não sei ainda o que vai acontecer. Mas sigo
acreditando.

Depois dessas tratativas e com a certeza de que eu farei mais um livro é tempo de
comemorar, de ficar feliz pela conquista e de trabalhar, de trabalhar muito. São três meses,
mais ou menos, cuidando de tudo: formatação do material, revisão e copydesk (quase
sempre), idas e vindas na casa do diagramador, conversas e mais conversas com o
responsável na gráfica, contato quase que diário com o autor ou autora, e por aí vamos…
Noites e noites de insônia, mais de dez horas de trabalho diário, finais de semana trabalhando
e, às vezes, imaginando e passando para o papel o desenho da capa e das páginas do livro.
Sim, eu também desenho capas e ilustro poemas e crônicas. Eu sempre penso no livro como
um belo objeto e sempre tento fazer dos meus livros belos objetos.

Ver o livro diagramado, no seu formato desejado, já é uma sensação sem igual. Mais lindo
ainda é receber vídeos e fotos da gráfica mostrando o livro ‘nascendo’. Nessa hora eu choro.
As lágrimas insistem em cair e a felicidade toma conta de mim, como uma mãe toma conta de
seu filho. E é só esperar a magia de tê-lo em minhas mãos. É bonito. É como que parir um
filho. Eu senti essa alegria quando minha filha nasceu. Ali, naquele livro, tem muito de mim,
das minhas mãos, do meu processo criativo, do meu saber, da minha capacidade de trabalho,
da minha vida.



Fazer belos livros deveria ser o ideal de todo editor. Fazer belos livros e que sejam
socialmente relevantes ou que contenham mensagens importantes introduz um elemento de
confusão nesse processo – elemento que faz com que o ato de fazer livro seja aquilo que é e
aquilo que almeja ser, tal como se a beleza não fosse razão suficiente para justificar a
existência de um livro. Eça de Queirós afirma: Não se pode fazer maior elogio dum livro. A
sua beleza está em não ser quase um "livro", uma cousa impressa, mas uma grande realidade
viva, em que nada é de papel e tudo de substância viva. E eu concordo com ele, na mais
despretensiosa audácia.

Trata-se de um tipo de idolatria: como não podemos definir a beleza ou dizer o que ela é,
passamos a substituí-la por outra coisa, que nos parece visível e tem pelo menos a vantagem
de poder ser comprovada no universo das coisas concretas. A beleza não pode ser disputada
como uma realidade palpável dos objetos feitos pelo homem (embora esteja sempre em
disputa), mas a relevância social das mensagens está sempre em questão: faço livros porque
tenho algo a dizer. Seria muito se eu afirmasse que faço livro apenas porque quero dizer
coisas de maneira bela. A questão se concentra, portanto, em torno do sentido que atribuo ao
meu compromisso de realizar o sonho de autores já consagrados e aqueles que estão iniciando
sua carreira na literatura, assim como eu, que nesse tempo realizei também um sonho há
muito tempo acalentado: publiquei dois livros de minha autoria. Quem escreve escreve por
alguma razão – deseja ver seus escritos impressos na forma de um belo livro. E eu estou aqui
para realizar esse desejo. E da maneira mais bela possível. Esse agora é meu lugar no mundo.

Márcia Heliane Gomes
Escritora e editora
Responsável pela Aquarius Produções Culturais

1 commentaire


Edmílson Martins de Oliveira
Edmílson Martins de Oliveira
15 févr. 2024

Marcia, essas suas considerações sobre o fazer livros são deliciosas, emocionantes, como o livro, uma verdadeira obra de arte. Tem poesia, tem literatura, tem sangue, tem vida. Dá gosto ver a sua delicadeza, sua força, seu amor pela obra de arte, que significa amor ao belo.


J'aime

Inscreva-se para receber nossas notícias

Sobre nós

A equipe do RT Notícias é composta por jornalistas experientes e especializados em cobrir eventos globais. Eles possuem vasto conhecimento no campo do jornalismo e estão comprometidos em fornecer informações precisas e imparciais aos leitores. O RT Notícias valoriza a verdade, a objetividade e busca oferecer uma visão abrangente dos acontecimentos que influenciam o mundo.

bottom of page