A beleza de fazer livros
- Márcia Heliane Gomes
- 14 de fev. de 2024
- 4 min de leitura

Eu faço livros. E resolvi fazer livros há pouco tempo, relativamente. Trabalhei na Educação
durante 30 anos e quando me aposentei não queria parar. Parar envelhece. E eu não quero
envelhecer. Voltei a trabalhar e conheci um pouco do processo de edição e publicação de
livros. Nesse tempo, participei de sete publicações coletivas. Mas isso não me bastava. Eu fui
apresentada aos livros ainda muito menina e eles sempre me encantaram. O cheiro, o
formato, as letras, as palavras, as histórias, a capa, as cores – às vezes, a ausência delas –, o
encantamento de me transportar para outros mundos.
Resolvi então fazer livros. E, por onde começar? Aprendendo a fazer livros. E foi assim que
comecei – aprendendo e fazendo. E abri minha editora, a Aquarius Produções Culturais, com
a cara e com a coragem. Coragem sim, há que se ter muita. Meu trabalho é solitário. Trabalho
em um canto de um quarto e, às vezes, uma insone que vence a noite pensando na
responsabilidade de “colocar” um livro no mundo. Há sempre momentos de desespero,
quando os envolvidos, próximos ou distantes, não interagem. E, se interagissem,
atrapalhariam. Aí, sou só eu e minha coragem.
As sensações são muitas e, quase não consigo conter a alegria do aprendizado. São sensações
não totalmente conscientes, mas que norteiam minhas ações, meus hábitos e meus dias.
O primeiro contato com o autor é especialmente tenso. É nessa hora que falamos de questões
referentes à contrato, documentações, design de capa e diagramação, direitos autorais, vendas
e divulgação. É hora de demonstrar segurança e domínio do assunto. Ganhar a confiança e
torcer para que tudo dê certo. Nesse momento eu não sei ainda o que vai acontecer. Mas sigo
acreditando.
Depois dessas tratativas e com a certeza de que eu farei mais um livro é tempo de
comemorar, de ficar feliz pela conquista e de trabalhar, de trabalhar muito. São três meses,
mais ou menos, cuidando de tudo: formatação do material, revisão e copydesk (quase
sempre), idas e vindas na casa do diagramador, conversas e mais conversas com o
responsável na gráfica, contato quase que diário com o autor ou autora, e por aí vamos…
Noites e noites de insônia, mais de dez horas de trabalho diário, finais de semana trabalhando
e, às vezes, imaginando e passando para o papel o desenho da capa e das páginas do livro.
Sim, eu também desenho capas e ilustro poemas e crônicas. Eu sempre penso no livro como
um belo objeto e sempre tento fazer dos meus livros belos objetos.
Ver o livro diagramado, no seu formato desejado, já é uma sensação sem igual. Mais lindo
ainda é receber vídeos e fotos da gráfica mostrando o livro ‘nascendo’. Nessa hora eu choro.
As lágrimas insistem em cair e a felicidade toma conta de mim, como uma mãe toma conta de
seu filho. E é só esperar a magia de tê-lo em minhas mãos. É bonito. É como que parir um
filho. Eu senti essa alegria quando minha filha nasceu. Ali, naquele livro, tem muito de mim,
das minhas mãos, do meu processo criativo, do meu saber, da minha capacidade de trabalho,
da minha vida.

Marcia, essas suas considerações sobre o fazer livros são deliciosas, emocionantes, como o livro, uma verdadeira obra de arte. Tem poesia, tem literatura, tem sangue, tem vida. Dá gosto ver a sua delicadeza, sua força, seu amor pela obra de arte, que significa amor ao belo.