Harry Kissinger foi o Adolf Hitler da segunda metade do século XX.
Ninguém teve a frieza que ele teve, ao tomar decisões que ceifaram milhões de vidas humanas no Vietnam, no Laos, no Camboja, em Timor Leste. Na América Latina, ele defendeu todas as ditaduras militares que ensanguentavam o continente, atuando ainda para derrubar o presidente Allende no Chile.
Não satisfeito, atacou covardemente minorias étnicas como a dos curdos.
É um sinal dos tempos que alguns vejam nele um estadista. Isso só é possível numa época em que os fascismo volta a levantar cabeça no mundo.
Ele nada teve de estadista: nunca passou de um menino de recado de luxo da indústria bélica norte-americana. Nunca foi além de alguém que alugou seus conhecimentos para servir aos desejos de hegemonia do grande capital dos Estados Unidos.
Sofreu uma primeira grande derrota interna durante o Governo Carter, que passou a fustigar as torturas e demais violações de direitos humanos perpetradas pelas ditaduras militares na América Latina.
Harry Kissinger nada tinha de intelectual. Era, isso sim, uma cabeça pensante, um sabido sem escrúpulos. Intelectual é um termo que devemos reservar para os humanistas somente.
Apesar de toda a sua perversão e falta de limites, Kissinger perdeu quase todos as batalhas que travou. A começar pela guerra do Vietnam.
Eu estava em Paris quando os vietnamitas derrotaram a maior máquina militar da História. Uma multidão foi para as ruas comemorar a vitória. A massa parou diante da embaixada do Vietnam, para saudar Le Duc Tho, o negociador da paz.
Digno sucessor de Ho Chi Minh, de quem fora um velho companheiro desde os tempos heroicos da fundação do Partido Comunista da Indochina, Le Duc Tho ordenou que abrissem os portões da embaixada, comemorando com a multidão ali reunida a vitória da Civilização sobre a Barbárie.
Aquele foi sem dúvida um dos dias mais felizes e marcantes da minha vida.
Ivan Alves Filho, historiador. 30 de novembro de 2023
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