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O Quilombo dos Palmares como parte da luta

  • Foto do escritor: Ivan Alves Filho
    Ivan Alves Filho
  • 6 de set. de 2023
  • 3 min de leitura

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Entre o final do século XVI e o início do século XVIII, o estado de Alagoas atual serviu de palco para uma verdadeira epopéia, encarnada pelos combatentes do Quilombo dos Palmares. No dizer do respeitado historiador português Oliveira Martins, os quilombolas dos Palmares, abrigados no topo da Serra da Barriga, protagonizaram o mais belo episódio da História contra a escravidão e a opressão. Lutadores da liberdade, construtores de uma sociedade mais fraternal, multi-étnica, os quilombolas resistiram até os limites de suas forças ao domínio colonial, à exploração de classe e à discriminação racial. Criaram um Brasil às avessas, uma terra para todos, operando, ainda, uma formidável síntese cultural. Foi a nossa primeira luta de classes.

     Ao questionar toda uma estrutura que poderíamos denominar de igualitária, a qual prevalece até meados do século XVI, o colonialismo português abre a via para a sociedade de classes no Brasil: no lugar das roças indígenas, o latifúndio; no lugar dos homens livres, os escravos.

    O Quilombo representa para os escravos negros, índios, mestiços e brancos pobres – para os que não tinham, enfim, vez nem voz na sociedade colonial – acima de tudo uma alternativa de vida. De uma vida sem perseguições nem espoliações. Aquilombados em seus redutos encravados na Serra da Barriga os palmarinos ergueram uma organização social que virava as costas à escravidão e ao latifúndio, dois pilares do sistema colonial. De outra parte, como que contrastando com a penúria generalizada na Colônia, praticamente mergulhada na monocultura do açúcar, existia em Palmares um aparelho produtivo capaz de satisfazer não apenas as necessidades materiais dos membros da comunidade, como também gerar um excedente, negociado junto aos vilarejos coloniais vizinhos.

     Essa primeira tentativa concreta de superação da realidade colonial foi finalmente esmagada pelas forças portuguesas e pelas tropas arregimentadas pelos senhores de engenho e escravos de várias capitanias. Não obstante isso, a compreensão do que se passou nas florestas que se estendiam do cabo de Santo Agsotinho, em Pernambuco, até o norte do curso inferior do rio São Francisco, em Alagoas, se revela de extrema importância: o Quilombo dos Palmares logrou construir, desde o último quartel do século XVI até as primeiras décadas do século XVIII uma comunidade conduzida com autonomia pelos ex-escravos e homens livres que ali nasceram.

     Convém examinar, além das formas de organização material do Quilombo (trabalho livre, propriedade comunitária da terra), a complexa questão do território efetivamente controlado pelos quilombolas. Um território freqüentemente invadido, depredado. As autoridades coloniais e as milícias dos grandes proprietários de terra não perdem a oportunidade de queimar plantações e mesmo quilombos inteiros, quando de suas expedições militares. O estatuto real do espaço palmarino caracteriza-se, sobretudo, pela sua fragilidade. Trata-se, na realidade, de uma sociedade acossada. Nesse contexto, as forças produtivas não têm como se expandir além das atividades de subsistência e se encontram, de fato, bloqueadas. Ora, quando o Quilombo começa a gerar a sua própria maneira de reproduzir a sua força de trabalho, o seu choque com a sociedade oficial se torna inevitável e o movimento é esmagado. Nessas condições, diríamos que o Quilombo dos Palmares dependia de um outro sistema produtivo para poder se reproduzir: sem base material que lhe seja própria, esta, ao contrário, era dependente das oscilações do movimento real da sociedade colonial. Em Palmares, vigora uma forma social de produção algo coletivizada, cuja especificidade maior consiste em ser transitório e em servir de refúgio para os perseguidos e espoliados da sociedade oficial. A segurança e a sobrevivência, a guerra e o medo – eis os verdadeiros motores da comunidade palmarina.

    Mesmo assim, como durou cerca de 120 anos, o Quilombo dos Palmares se apresenta frente à História como uma tentativa de construção de uma ordem socialmente mais justa do que aquela em vigor na Colônia e uma síntese cultural louvável, uma vez que reunia elementos das três culturas. Assim, os palmarinos guerreavam com arcos e flexas. Construíam suas casas e concebiam o traçado de suas ruas à maneira africana. Erguiam  suas paliçadas, muito provavelmente, a partir dos modelos dos índios. Falavam a língua portuguesa - fator de unificação de uma massa escrava heterogênea. Plantavam os produtos da terra, como o milho e  mandioca.

   O Quilombo dos Palmares foi parte da luta e não uma luta à parte. Combatentes mais brasileiros, imposssível.

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