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ENTRE O SONHO LIBERTÁRIO E O ACORDE DO BANDONEÓN PERONISTA: A ARGENTINA ÀS VÉSPERAS DE OUTUBRO

  • Foto do escritor: Bruno Soller
    Bruno Soller
  • 17 de set.
  • 3 min de leitura
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Que el mundo fue y será una porquería, ya lo sé…” — o verso célebre de Cambalache, tango de Enrique Santos Discépolo, ressoa com força neste setembro político argentino. A poucos dias da eleição de outubro, o clima é de incerteza, tensão e reviravolta, como se a própria realidade tivesse adotado a cadência melancólica de um bandoneón.
 
O presidente Javier Milei, que até poucos meses atrás parecia consolidar um caminho de reformas radicais e um apoio sólido de sua base, enfrenta agora um cenário mais áspero.
 
Nos primeiros meses de governo, Milei foi beneficiado por uma lua de mel incomum entre os argentinos e seu presidente. Mesmo diante do custo de vida disparando, com tarifas reajustadas, salários comprimidos e uma inflação ainda persistente, uma parcela significativa da sociedade lhe concedeu crédito e tempo. A narrativa de que a dor era necessária para curar décadas de desequilíbrios e privilégios ressoava — muitos cidadãos estavam dispostos a suportar o peso do ajuste em nome de uma promessa de futuro melhor.
 
Essa tolerância inicial se apoiava tanto no carisma teatral de Milei quanto na esperança de uma ruptura definitiva com o establishment. Era o voto de confiança típico de quem acredita estar participando de uma mudança histórica — uma aposta arriscada, mas, até então, emocionalmente sustentada pela paciência coletiva.
 
Em 18 de maio, a coalizão do Libertad Avanza, alcançou um resultado marcante nas eleições para a Legislatura da Ciudad de Buenos Aires. A lista liderada pelo seu porta-voz, Manuel Adorni, foi a mais votada com cerca de 30,1% dos votos, superando o peronismo, representado por Santoro e solapando o PRO, de Macri, que detinha o poder na capital federal há quase 20 anos. Um momento de grande afirmação política do presidente argentino.
 
Entretanto, o escândalo envolvendo Karina Millei, irmã e principal operadora política do “Peluca”, caiu como uma punhalada nessa confiança. A denúncia de um suposto envolvimento em um esquema de corrupção na área da saúde, mina a essência do mileísmo, um movimento anti-casta e seus vícios.
 
Como um tango de desencanto, a orquestra conduzida com bravura e ousadia, começa a soar desafinada. Pesquisa realizada pela AtlasIntel, que teve um grande desempenho nas eleições presidenciais do país vizinho, apontou uma desaprovação de 55% de Millei. É bem verdade, que o Libertad Avanza, segue com alguma solidez de vantagem, com uma performance de mais de 10 pontos percentuais sobre seus adversários.
 
A curva do peronismo, no entanto, virou ascendente. Com o desapontamento em ver o presidente involucrado em um escândalo de origem familiar, a paciência com as decisões econômicas impopulares, começa a encurtar. No tracking da empresa Tendencias, o crescimento dos apoiadores de Cristina Kirshner foi de quase 15% em apenas 1 ano, com uma curva muito acentuada após as denúncias envolvendo Karina.
 
Como em “Cambalache”, a sensação que emerge é a de que “o mesmo cão, mas com distinto colar” retorna ao palco e isso reanima o peronismo, capitalizando a decepção popular. Já que são todos iguais, o sacrifício deixa de ser válido.
 
Apesar de estar cumprindo prisão domiciliar e ter uma inabilitação vitalícia para ocupar cargos públicos, Cristina Kirchner reencontra certo protagonismo e o faz da sua sacada, ou de discursos gravados que circulam amplamente entre sua base. Em um comício liderado por sua mensagem, ela defendeu que “ser presa é um certificado de dignidade”, e convocou seus apoiadores a se reunirem “com mais sabedoria, unidade e força”. Tenta transformar sua condenação por corrupção em perseguição política. Nada muito diferente do discurso lulista no Brasil.
 
Atacar os “parasitas do estado” rememora a frase de “caçar marajás” explorada por Fernando Collor de Mello, no final dos anos 80. Os outsiders radicais, cada um a seu modo, parecem viver situações análogas. Impeachmado depois de ser denunciado pelo próprio irmão, Pedro Collor, o ex-presidente brasileiro caiu em desgraça na opinião pública, justamente pela hipocrisia de ter sido o grande nome pela moralização do país. Esse mesmo sentimento, pode aflorar a depender dos desfechos das investigações na Argentina.
 
O tango, com sua melodia amarga, descreve bem esse destino: Collor, no Brasil, caiu ao som de um compasso rápido, marcado por protestos de rua e o impeachment histórico. Milei, na Argentina, começa a sentir o peso da mesma música: a esperança libertária que embalou seu governo pode se transformar em um “cambalache” contemporâneo, onde corrupção e promessas frustradas se confundem.
 
A coincidência de irmão e irmã estarem no epicentro dos dois escândalos é particularmente simbólica: mostra que a retórica moralizadora é vulnerável quando os círculos íntimos do poder se tornam cúmplices do que antes se condenava.
 

 

 

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