Segurança Pública no Brasil: O Rio de Janeiro e a Ascensão de um Estado Paralelo
Regis Cavalcante
3 de fev.
3 min de leitura
A segurança pública no Brasil é um dos temas mais urgentes e complexos da atualidade, especialmente no estado do Rio de Janeiro, que se tornou um emblemático exemplo do colapso da ordem pública. A situação no Rio é alarmante: milicianos e traficantes dominam vastas áreas, transformando-as em verdadeiros estados paralelos, onde o poder do Estado é praticamente inexistente. As forças de segurança, apesar de seus esforços, parecem impotentes diante da escalada da marginalidade, enquanto a população vive sob constante ameaça de violência e extorsão.
O Rio de Janeiro é hoje um cenário de guerra não declarada. Organizações criminosas, como milícias e facções do tráfico, controlam territórios inteiros, impondo suas próprias leis e sistemas de poder. Esses grupos não apenas dominam o comércio ilegal de drogas e armas, mas também extorquem moradores e comerciantes, cobrando "pedágios" para que possam circular e trabalhar. A população, especialmente nas periferias, vive refém dessas organizações, sem acesso a serviços básicos de segurança e justiça.
O sistema carcerário, longe de ser uma solução, tornou-se parte do problema. As facções criminosas operam de dentro das prisões, coordenando ataques, assassinatos e o tráfico de drogas em todo o estado. A superlotação e a falta de infraestrutura nas penitenciárias facilitam a consolidação desses grupos, que mantêm um controle férreo sobre os presídios e, por extensão, sobre as comunidades que dominam.
A Constituição Federal de 1988, embora seja um marco democrático, pouco aborda a questão da segurança pública. O texto constitucional trata o tema de forma genérica, delegando aos estados e municípios a responsabilidade pela manutenção da ordem pública. No entanto, a falta de diretrizes claras e de um planejamento nacional eficiente resultou em políticas fragmentadas e, muitas vezes, ineficazes.
No Rio de Janeiro, a ausência do Estado é evidente. As forças policiais, apesar de sua dedicação, enfrentam uma série de desafios, como a falta de recursos, a corrupção interna e a violência desmedida dos criminosos. Operações policiais, embora frequentes, não conseguem resolver o problema de forma estrutural, pois não atacam as causas profundas da criminalidade, como a desigualdade social, a falta de oportunidades e a exclusão histórica das comunidades pobres.
A violência e a insegurança têm um endereço certo: as periferias. São nessas áreas, marcadas pela pobreza e pela falta de investimentos públicos, que o crime organizado encontra terreno fértil para se expandir. A população mais vulnerável, composta majoritariamente por negros e pobres, é a que mais sofre com a violência. São eles que pagam o preço mais alto, seja com suas vidas, seja com a perda de liberdade e dignidade.
O racismo estrutural e a desigualdade social agravam ainda mais a situação. Enquanto as áreas mais ricas do Rio de Janeiro contam com segurança privada e maior presença do Estado, as favelas e periferias são abandonadas à própria sorte. Essa segregação espacial e social perpetua um ciclo de violência e exclusão, onde os direitos básicos à vida e à segurança são negados a uma parcela significativa da população.
O caos na segurança pública do Rio de Janeiro é um reflexo de problemas nacionais. A falta de uma política de segurança integrada, a corrupção, a impunidade e a desigualdade social são fatores que contribuem para a perpetuação da violência. No entanto, é preciso buscar soluções que vão além das abordagens repressivas.
Investir em educação, geração de emprego e inclusão social é essencial para romper o ciclo da criminalidade. Além disso, é fundamental reformar o sistema carcerário, modernizar as forças de segurança e fortalecer as instituições democráticas. A participação da sociedade civil e o engajamento das comunidades locais também são cruciais para a construção de um modelo de segurança pública mais justo e eficiente.
A situação da segurança pública no Rio de Janeiro é um retrato dramático dos desafios enfrentados pelo Brasil. O domínio do crime organizado, a ineficiência do Estado e a exclusão social criaram um cenário de caos e insegurança, onde os mais pobres e negros são as principais vítimas. Para reverter esse quadro, é necessário um esforço coletivo que combine políticas públicas eficazes, investimentos sociais e o fortalecimento das instituições democráticas. A segurança pública não é apenas uma questão de polícia; é uma questão de cidadania e direitos humanos. Por isso, acredito que a proposta da PEC, em debate é o começo e a perspectiva de introduzir na ordem do dia esta agenda que asfixia a sociedade brasileira.
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